Por aqui.

12 de dezembro de 2011

Como bom turista que sou, gosto de visitar lugares com histórias e fazer passeios culturais. Mas em Bucareste, não existem tantas opções assim. Os dois pontos turísticos que valem a pena são o Parlamento e o Arco do Triunfo. O primeiro bem mais que o segundo, mas já que é tudo na mesma cidade, é melhor aproveitar e ir aos dois. Fui ao Museu de Arte Romena, mas nem gostei muito. Os temas e as estéticas muito parecidas em três andares gigantes de pinturas e esculturas. Pelo menos, foi de graça. Toda primeira quarta-feira do mês, a entrada é gratuita. Fica a dica.

O Parlamento

Apesar da parecer um prédio antigo, o Parlamento tem só 22 anos de existência e ainda está 95% completo (a parte subterrânea não foi feita). O prédio foi resultado da megalomania de Nicolae Ceaușescu, o último ditador presidente comunista da Romênia. O lugar é muito lindo e gigantesco. Andamos por mais de duas horas, percorrendo dois quilômetros e vimos, apenas, 10% de tudo. Ele não é completamente operacional, mas, além de ser sede para as câmaras do parlamento romeno, acontecem várias conferências em alguns dos 1100 salões do palácio. O pessoal daqui morre de orgulho do prédio porque é o segundo maior edifício do mundo. O primeiro é o Pentágono.

Mas o ponto alto do passeio mesmo foi poder ver a vista da cidade do terraço do palácio.

O Arco do Triunfo

Fomos um dia só rodear essa bagaça, mas voltamos em outro porque tava rolando de subir lá no topo pra ver a vista. E o melhor: de graça. O problema é que todas as pessoas do mundo resolveram fazer a mesma coisa. Esperamos quase uma hora para subir porque uma velha animal atrás da gente começou a gritar falando que ela era inteligente (?) e que devíamos ir pro fim da fila. Fomos porque não se deve discutir com gente louca, banguela e fedida. A vista nem vale muito a pena, mas foi muito bom porque o dia tava bem bonito.

Bucareste tem muitos bons restaurantes, bares, pubs, mas quando o assunto é programas culturais, é melhor descambar pra outras cidades. Mas disso, eu falo em outro post 🙂

Cadê meu feijão tropeiro?

29 de novembro de 2011

Como todo bom gordo, preciso falar de comida. Acho até que demorei bastante pra fazer um post sobre isso. Mas vamos lá.

A rotina alimentar dos romenos é um pouco diferente da nossa. Eles não costumam fazer grandes refeições durante o dia. Se você olhar na rua em qualquer período, vai ver alguém comendo algum tipo de snack. O mais comum deles é o covrigi, um pretzel bem salgado e MUITO barato (1 leu).

Ou, se sua praia não for comida salgada, rola o covrigi cu ciocolată. AMOR VERDADEIRO. Sério. Se eu não comer uma bagaça dessa todo dia, minha vida perde o sentido. Em vez de ter sementes em cima e ser salgado,  essa lindeza é recheada com chocolate cremoso. Fim.

Da mesma forma que existem os quitutes pro dia, galera aqui é viciada em comer shaorma de noite. E, assim como as covrigaries, os shaorma places estão presentes em todo canto da cidade. Mas o que é esse negócio? É um kebab recheado com tudo o que você quiser. Nego bota até batata frita no meio.

E, claro, existem os típicos restaurantes de fast food que estão sempre lotados. Os mais tradicionais são McDonald’s, KFC e Springtime. Mas, se puder, evite esse último. Fui inventar de pedir um cheeseburger deles achando que era uma safe choice e TANÃÃ:

Hambúrguer de frango, salpicão de repolho e cenoura, picles, queijo, ketchup, maionese e  mostarda. Preciso dizer mais nada. Mas as pizzas de lá são muito boas, baratas e valem a pena.

Apesar desse costume de comida rápida, o romeno come muito bem. Os pratos mais tradicionais dão, digamos, sustância. Por exemplo, a mămăligă, o sarmale, o mititei (mici) e o cozonac.

Mămăligă nada mais é que a nossa velha conhecida polenta. Mas, aqui, eles costumam comê-la com MUITO sourcream (şmantana). Já o sarmale são folhas de couve enroladas recheadas com carne picada. Mititei é uma almôndega feita com carne de vaca, de cordeiro e de porco em formato de um kibe. Não se assuste porque parece uma bosta de cachorro. Mas o sabor é bom. E, por fim, cozonac é um pão doce que pode ser recheado com nozes, chocolate, essência de rum e passas. MUITO bom.

Outra coisa muito comum por aqui são os cardápios diários. Ou em bom romeno, os meniu zilei. Os preços variam entre 10 e 20 leis e, normalmente, são uma sopa, um prato principal e uma sobremesa/bebida. Vale muito a pena porque enche que é uma beleza. Existem muitos restaurantes de comida típica, mas os mais famosos são o Caru’cu Bere e o La Mama. Recomendo porque os ambientes são muito interessantes e a comida é muito bem feita.

Se você quer comer bem, é possível. Mas nada substitui nossa comida brasileira 🙂

Explode Coração.

23 de novembro de 2011

Todo país tem seus estereótipos. E o da Romênia é que todos são ciganos. Até aí tudo bem, certo? Pelo menos, pra mim. Ciganos me lembram Explode Coração, gente rica, tradições interessantes, povo alegre. E Explode Coração me lembra crianças desaparecidas, Isadora Ribeiro chorando, Gugu etc. Mas essa é outra história.

A situação aqui é que os romenos – ou, pelo menos, a maioria deles – ODEIAM os ciganos.

Ricardo Macchi não curtiu isso.

As pessoas têm opiniões divididas, mas grande parte delas acredita que a culpa da Romênia não ter evoluído muito nos 22 anos sem comunismo é dos ciganos. “Eles roubam, bebem, fumam, não trabalham, ficam pedindo esmola. Se eu pudesse, tirava todos eles daqui”. Juro que já ouvi gente dizendo isso. Mas, segundo os que tem juízo, a coesão não existe porque, de um lado, as pessoas não dão oportunidades aos ciganos e, do outro, os ciganos se mantém praticamente em uma sociedade fechada. Funciona quase como um ciclo vicioso. Não querem aceitar, mas não se fazem ser aceitos.

O preconceito – como o de todo o tipo – não tem fundamento, mas é fácil de ser explicado. Nem todos os ciganos são bandidos, mas a maioria dos bandidos são ciganos, entende? De novo, o ciclo aparece. Se tornam bad guys por falta de oportunidades, já que nego não tá disposto a botar a mão no fogo.

Não sei se estão certos ou se eu que entendi mal. Só acho que, enquanto um dos lados não abrir mão do orgulho, a Romênia como um todo só tem a perder.

Mas não é latino?

22 de novembro de 2011

Não tem jeito. O pessoal aqui ama a língua portuguesa. Principalmente, porque dizem que é a mais próxima do romeno. São fascinados e, mais importante, entendem praticamente tudo o que eu falo em português. Daí que a recíproca deveria ser verdadeira, certo? Não é. Não consigo entender quase nada que a galera fala por aqui. Me dizem o tempo todo o quanto deve ser fácil para um brasileiro aprender romeno porque é latino e pans.

Mano, NÃO É. Pra mim, a língua romena é uma mistura de alemão com russo pronunciada com um bom sotaque italiano. Tipo, rola umas letras com vírgula (o Ș e o Ț) que tem som de CH e TS. Muito russa essa bagaça. Aí, rola uns 3 tipos de A (A, Ă, Â) e o I tem circunflexo (Î). Até agora, eu num saquei muito essa parada, mas só sei que a diferença de som acontece em quanto vc abre a sua boca. Ou algo parecido. Ou não. Vai saber. Nu vorbesc romaneşte.

Quando digo que não entendo nada, nego se assusta. “Mas você não é latino?”

Sou sim.

Com L. De loser.

I, I follow, I follow you.

21 de novembro de 2011

Por incrível que pareça, a música romena é muito boa. O que mais toca por aqui são aquelas que tocam a todo momento nas rádios do Brasil. E nada de emo. Todas são extremamente animadas e te fazem querer dançar. Talvez, por isso, a galera aqui seja tão acostumada a dançar em grupo. Sabe quando a gente fazia rodinhas em festas de 15 anos pra todo mundo dançar igual? Então. Aqui, é desse jeito quase o tempo todo.

É tão forte essa tradição que em uma das minhas aulas de forró, me perguntaram como a gente dançava esse ritmo em grupo. Tipo, não dançando? Huahauh. Mas não foi o suficiente. Tive que inventar uns passinhos pra todo mundo dançar igual em roda.

Nas festas e boates, é a mesma coisa. Nego dança tudo em grupo. Praticamente todo mundo fazendo uma filinha pra dançar a conga. Macarena, então, preciso nem dizer. Mas confesso que é bem divertido. Principalmente, quando tocam I Follow Rivers. TODO MUNDO sabe cantar do início ao fim. Juro que tô tentando aprender a letra o quanto antes pra num ficar excluído.

E se você ainda não acredita que a música aqui é boa, saiba que Inna, Akcent e Alexandra Stan são da Romênia.

Concorrência Leal?

13 de novembro de 2011

Na Romênia, existem três grandes operadoras telefônicas: Cosmote, Orange e Vodafone. Mas, pelo que vi até agora, elas não concorrem acirradamente como as nossas aí no Brasil. Em vez de investir em tarifas baixas de uma localidade para outra ou de operadora para outra, eles fazem exatamente o oposto. Tornam uma ligação de uma operadora para outra um absurdo de caro. Por isso, vale mais a pena ter um aparelho de cada uma delas do que apenas um para ligar para qualquer operadora. Meio louco, quase burro, certo? Errado. As pessoas aqui GARANTEM que realmente fica mais barato andar com 2 ou 3 celulares a tiracolo.

A maioria dos prestadores de serviço possui um número de cada operadora. No caso dos táxis, fica estampadado na lataria.

O número vermelho é da Vodafone, o laranja da Orange e o verde da Cosmote.

Se funciona, eu não sei. Mas tenho certeza que é uma maneira de acabar com a concorrência.

Unagi.

13 de novembro de 2011

As coisas por aqui funcionam. Inclusive, o transporte público. Eu ando bastante porque gosto de caminhar, mas se eu quisesse chegar nos cantos mais rapidamente, isso não seria um problema. Existem várias opções de locomoção: metrô, ônibus, bonde, trolley e táxi.

As linhas do metrô são ótimas e preenchem praticamente toda a cidade. Os trens saem de 3 em 3 minutos de cada estação, mas quase sempre estão adiantados. A galera da AIESEC aqui fez pra mim um monthly pass, no qual tenho direito de andar de metrô quantas vezes quiser durante um mês inteiro. Tem me salvado bastante. A única coisa que precisa prestar atenção é o horário porque ele fecha de 22h30 às 5h.

Já o ônibus e o bonde, eu só pego quanto tô com pessoas daqui. Segundo a galera, eu não pago porque não sou romeno. Mas, sei lá. Vai que o motorista resolve me cobrar no dia que eu tiver sozinho? Prefiro não arriscar. Hauhua. De qualquer maneira, ambos são de qualidade, rápidos e eficientes. O bonde um pouquinho menos porque são mais antigos e precisam estar na linha pra funcionar, certo?

—UPDATE 1—

Parece que vc tem que pagar sim, mas é de boa andar sem nada. Tipo, se um tiozinho da parada perguntar onde tá seu cartão, aí FUDEU, TEJE PRESO. Mentira. Você só paga uma multa. Mas se ninguém pedir nada – o que é o mais comum – tá tranquilo.

—UPDATE 2—

Daí que o sortudão aqui resolveu pegar um bonde pra poupar tempo e adivinha? FUI ABORDADO. Resultado: desci 7 paradas depois do meu ponto tentando explicar pro cara que eu, cof cof, não sabia, tive que pagar uma multa de 100 lei – mas só tinha 50 na carteira e ele deixou só pagar a metade – e cheguei atrasado. Cagado de arara atacando novamente.

—UPDATE 3—

Daí que o escroto que me abordou NÃO era funcionário do bonde. Fui roubado por um aleatório. Fim. A galera que trabalha de verdade para a empresa mostrará o cartão de identificação, pedirá o seu cartão do bonde/ônibus depois de passar o dele na maquininha laranja e só depois vai pedir o dinheiro. Não seja animal como eu. Hahaha. Ah, eles usam uniforme cinza com o nome da empresa RATB.

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O trolley eu nunca usei. Mas cabe explicar do que se trata. É uma ônibus que segue uma única rota, mas em vez de seguir trilhos no chão, ele possui pneus. O que dá a direção são os cabos elétricos em cima dele.

Os táxis aqui funcionam de uma maneira interessante. Todos possuem o preço estampado na lataria. Dessa forma, turistas não são enganados com o preço. Podem ser enganados pela rota, mas aí já é outra história. Huahua. O preço mais comum é 1,39 lei/km (mais ou menos R$0,85/km). Precisamos nem entrar na conversa do quanto as coisas são mais baratas por aqui.

Com esse tanto de coisa pelas ruas, mais carros, pedestres, motos, cachorros, ciclistas, dá pra imaginar o caos que o trânsito é, né? Apesar de existirem sinais e faixas de pedestres, a maioria dos motoristas não os respeitam. Furam sinal e buzinam pra tudo e para todos a todo momento. E se você tem a ilusão de que está seguro nas calçadas, eu não teria tanta certeza:

CORRAM PARA AS COLINAS! Galera aqui estaciona em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer jeito.

Portanto,

 Be prepared.

Piața Dogão

9 de novembro de 2011

Assim como qualquer outra cidade, Bucareste possui seus pontos de encontro. A coisa boa daqui é que, além de serem locais bem movimentados, ficam situados bem no centro da cidade. Sem falar da arquitetura que é de deixar qualquer um boquiaberto. Mas a vantagem destes pontos é que todos – ou, pelo menos, a maioria – são piațas (praças, em romeno). Essa estrutura facilita o trânsito pela cidade porque basta perguntar pra que lado a piața X está e ir. Quer dizer, se você for normal. Tô há quase uma semana aqui e eu consegui me perder TODO SANTO DIA. Mas, né? Não devo ser muito parâmetro.

Enfim, as principais são Piața Victoriei, Piața Unirii e Piața Romană. Todas muito próximas e muito bem frequentadas. Porém, não tanto quanto a minha preferida: Piața Dogão.

Não que alguém saiba da existência dela, é claro. Mas o importante é que meus manos representam.

Xena desfrutando uns bonsbanho de sol.

Bongo só no egoísmo dos quitutes.

Brincadeiras à parte, Bucareste é cheia de vira-latas. Igual no Brasil. Todo dia vejo novos cachorros pelo caminho. Dá um aperto no peito, mas que logo vai embora. De vez em quando, um deles se rebela e resolve perseguir algum desavisado na rua. Já vi acontecer umas três vezes. Do jeito que eu sou, meu dia já tá marcado na agenda deles.

De todos eles.

a cidade Cinza.

8 de novembro de 2011

 

Se tem uma coisa que a gente costuma fazer é representar coisas e emoções por meio das cores. Claro que isso é completamente subjetivo e, muitas vezes, cultural, mas sempre rolam aqueles clichês: verde de inveja, roxo de vergonha, branco de susto. E com Bucareste, não poderia ser diferente. Até porque muita gente não sabe o que pensar quando houve essa cidade. Por isso, se torna algo nebuloso, sem definição. Cinza, por assim dizer. Mas, para mim, essa cor já possui outro significado.

Cheguei aqui em um dia cinza.

Curto, nublado, frio. Tudo combinando com a arquitetura comunista dos prédios e das gigantes piațas. Até aqui, tudo era novidade. Um país cujo a bandeira é azul, amarela e vermelha não poderia ser tão monocromático. Aliás, não deveria.

Mesmo assim, tudo era lindo. Das ruas às pessoas. E as coisas ficavam cada vez mais belas quando percebia que elas funcionavam. Das ruas às pessoas. Apreciando a beleza, quase fui atropelado infinitas vezes. Pelas ruas e pelas pessoas.

Mas como nem tudo são coresflores, foi esse mesmo cinza que me fez perceber uma coisa: a falta de cuidado. Com o outro e consigo. Cinza de cigarros, cinza de carrancas, cinza de solidão. O que sobram em civilidade, pecam em empatia. São capazes de não jogar um papel sequer na rua, mas não conseguem conter uma buzinada no trânsito. Se seria uma tentativa de reforçar a individualidade, não sei. Mas tenho certeza que isso é apenas uma pedra no recente rumo romeno.

Afinal, Bucareste é sim uma cidade cinza. Mas porque suas cores ainda estão em semitom.